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Mercado de trabalho corrobora preocupação com inflação, diz FGV Ibre
Os dados de agosto mostram mercado de trabalho aquecido, com aceleração do saldo líquido positivo em empregos formais e massa total de rendimentos avançando. Esse cenário corrobora a preocupação com a inflação, principalmente em serviços, e seus efeitos na política monetária, diz Rodolpho Tobler, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
O mercado de trabalho ainda segue sob impacto do dinamismo econômico da primeira metade do ano, mas pode desacelerar na virada para 2025, sob impacto da alta de juros, estima.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta sexta-feira (27), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no país caiu para 6,6% no trimestre móvel encerrado em agosto. O resultado ficou abaixo do verificado no trimestre anterior, encerrado em maio (7,1%) e também do resultado de igual período de 2023 (7,8%).
Novo Caged
Também na manhã dessa sexta-feira, o Ministério do Trabalho e Emprego divulgou os resultados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostrou criação de 232.513 vagas com carteira assinada em agosto.
Os dados, diz Tobler, mostram um mercado de trabalho bastante aquecido. Nos dados da Pnad, destaca, um ponto muito positivo é a disseminação entre as principais atividades levantadas pelo IBGE.
“Vemos principalmente comércio, puxando um pouco mais forte, mas construção também com um número bastante robusto. Outros serviços também têm um certo peso também para a contratação também crescendo.”
Massa salarial ainda crescendo
Além da melhora da taxa de desemprego, afirma, há aumento da taxa de participação bastante disseminada entre as atividades econômicas e massa salarial ainda crescendo.
No Caged, ele destaca que o saldo líquido de criação de vagas voltou a acelerar. De uma maneira geral, o saldo do Caged esse ano, olhando de janeiro a agosto, ficou em média perto de 200 mil, observa, embora com algumas quedas em maio e julho, por exemplo.
“O Caged tem dado sinalizações bem consistentes da evolução do emprego formal esse ano, o que vemos também nos dados da Pnad”, diz ele, salientando que há diferença na natureza dos dados e nos critérios de observação.
“Vemos que o emprego formal tem uma participação muito interessante este ano para ajudar a puxar essa recuperação do mercado de trabalho. No início do ano, nos surpreendemos, porque as previsões não eram tão positivas para o mercado de trabalho, e havia alguma expectativa de que houvesse alguma desaceleração ao longo do segundo semestre, mas, em agosto, tivemos um mercado de trabalho bastante aquecido”, avalia Tobler.
Há, porém, diz, pontos de atenção. O primeiro deles é a questão da massa salarial continuar avançando.
Risco de efeito rebote
“O Banco Central tem alertado sobre isso, pelo risco de trazer para a inflação um pouco mais à frente. O segundo ponto de cautela vem do dado de empregos no setor privado sem carteira assinada e público sem carteira assinada. São, muitas vezes, atrelados a empregos temporários, e isso pode trazer algum efeito rebote um pouco mais à frente, porque esses empregos sem carteira são mais frágeis.”
Segundo dados da Pnad, a população ocupada informal aumentou 1,8% no trimestre encerrado em agosto em relação aos três meses até maio. A população ocupada total cresceu 1,2% na mesma comparação.
Trajetória da Selic e ritmo do emprego
O terceiro ponto, prossegue Tobler, é sobre a continuidade do atual ritmo do mercado de trabalho. O Banco Central parou com a queda de juros, e a Selic voltou a subir em setembro, lembra.
“A tendência é que a atividade dê uma certa esfriada e aí, naturalmente, também o mercado de trabalho possa ser afetado. No momento, não observamos isso. Não tem nenhum efeito aqui de redução do ritmo de juros, tanto olhando para a Pnad quanto para o Caged.”
Para o economista, o efeito mais claro da alta de juros deve vir ao fim do segundo semestre. “A tendência é que haja uma desaceleração até o fim de 2024, ainda com resultados positivos sazonalmente para o mercado de trabalho no fim do ano, período importante para o comércio e serviços. Mas a tendência é que, na virada de 2024 para 2025, já tenhamos um ritmo um pouco mais brando. Acho que é difícil imaginar continuar nesse ritmo no mercado de trabalho que estamos observando.”
*Com informações do Valor Econômico
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